segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Um depoimento sobre amamentação e empoderamento

O Pietro nasceu de uma cesárea não desejada. Mas isso é uma outra história. A questão é que isso para mim foi um dos fatores que interferiu negativamente no começo da amamentação. Antes de ele nascer eu cheguei a ir a uma reunião das Amigas do Peito, pois apesar de trabalhar na área de saúde nunca achei que comigo as coisas seriam mais fáceis, pelo contrário, pensava até que poderiam ser mais difíceis. E foram bem difíceis… O Pietro nasceu às 21h31 e só veio ficar comigo depois da meia noite. Quando ele chegou a primeira coisa que fiz foi colocá-lo para mamar. Eu ali, sem jeito, movimentos limitados porque ainda estava anestesiada, coloquei meu filho para mamar da melhor forma que consegui. E ao invés de ser apoiada ouvi da técnica de enfermagem que me assistia que ele estava com ‘a pega errada’. A ajuda dela limitou-se a enfiar mais o meu peito na boca do meu filho. Ela saiu do quarto e a impressão que meu marido teve e me disse depois é de que ela estava com muita má vontade para ajudar. Após uma madrugada inteira tentando amamentar como conseguia meus mamilos estavam doloridos, vermelhos. Nessa tal maternidade, referência na rede privada aqui no Rio de Janeiro, existe um Grupo de Amamentação. A minha obstetra pediu para a enfermeira desse grupo conversar comigo. Estranhei as orientações, pois depois de muito me informar e até questioná-la sabia que algumas coisas não eram recomendadas, como fazer aquela mão em tesoura para dar o peito para o bebê. Mas na minha inexperiência, querendo tentar fazer a tal ‘pega correta’ e diminuir a dor que já era bastante incômoda, eu fiz o que ela falou. E não adiantou, ele continuava com a ‘pega’ errada, a amamentação era com dor, eu fui para casa numa sexta e passei o fim de semana com dor. Nesse período meus mamilos ficaram bastante machucados. Somente na segunda eu falei com a minha obstetra e busquei ajuda com uma pessoa que ela me indicou. Essa pessoa me orientou buscar um Banco de Leite, e no dia seguinte eu fui. Esse Banco de Leite pertence a um hospital municipal e eu passei a manhã lá, até aprender a dar o peito para meu filho. A mídia, a população, todos criticam o SUS, mas foi lá que eu encontrei a orientação e o cuidado que as pessoas da rede privada não tiveram competência para me dar. Daí em diante segui todas as orientações para cuidar dos mamilos feridos, mas cada mamada era uma dor, um sacrifício, uma angústia. As semanas se passavam e a dor permanecia, a cicatrização demorava. Eu chorava e me sentia a pior das mães. Me perguntava por que aquilo tudo comigo, quando eu teria prazer em amamentar. Culpava a cesárea, culpava a maternidade onde ele nasceu… O apoio do meu marido foi fundamental. Ele sempre me incentivou, apesar do sofrimento. Colocava música para eu relaxar nos momentos em que ia amamentar, ficava com o Pietro para eu poder descansar. Apesar daquilo tudo não entrava na minha cabeça dar outro leite que não fosse o meu, e eu lutava contra toda aquela dor. Escrevi para as Amigas e fui à reunião de Botafogo. Foi o apoio que eu precisava, a Karina me ensinou uma posição para amamentar que causava menos dor. Quando o Pietro completou 1 mês, as feridas cicatrizaram. Ainda sentia um desconforto no mamilo direito, mas com o tempo isso passou. Só que aí veio a segunda prova de fogo: Pietro ganhou pouco peso. Na verdade, eu já estava achando que isso estava acontecendo porque percebi que ele cresceu, mas não percebia ficar mais fortinho. O momento em que eu vi na balança que ele ganhou pouco foi muito, muito difícil. Na mesma hora pensei “meu Deus, agora vai ter que complementar!”. Ao menos o pediatra demonstrou flexibilidade, ele deu 15 dias para observarmos o ganho de peso dele e disse que achava que o que aconteceu foi um problema de ajuste no início da amamentação. Eu fiquei desolada, só pensava o quanto dar outro leite, coisa que para mim era inadmissível, iria atrapalhar a amamentação. Fiquei paranóica. Na primeira semana o pesei umas três vezes. E ao final de 7 dias ele só tinha ganho 30g. Procurei novamente a mesma pessoa que me indicou o Banco de Leite, fui na reunião das Amigas na Tijuca. Felizmente o problema era mesmo de adaptação: como muitos recém nascidos o Pietro dormia demais e mamava de menos. Tive que ter muita paciência com ele, ficava bastante tempo com ele no peito, acordava, trocava a fralda, tirava a roupa, tentava fazer ele ficar desperto. Comecei a complementar com meu próprio leite, a nutricionista que me ajudou em todo esse processo me ensinou a tirar o meu leite no final da mamada, porque o Pietro não chegava a deixar meu peito mais vazio depois que mamava. Aí eu oferecia esse leite com a técnica de relactação, quando não dava para ordenhar depois eu tirava o leite antes, foi uma dica para facilitar o ganho de peso que a Maria Lúcia e a Rose me deram. Fiz isso por uns 20 dias, voltei ao pediatra e o Pietro ganhou quase 1kg! Quando ele completou 2 meses começou a ficar esperto, dormir menos e mamar mais, e daí para frente continuou ganhando bastante peso. Tenho muito orgulho de dizer que nunca dei outro leite para ele que não fosse o meu. Até 6 meses ele era mais magro do que os outros bebês. As pessoas achavam que ele era mais novo, davam menos tempo de vida para ele. Acho que isso é muito difícil para uma mãe, essas comparações com outros bebês, mas eu aprendi que meu filho é único e isso foi bom para mim, porque até hoje eu procuro não comparar ele com outras crianças. Nesse primeiro ano de vida dele participei de muitas reuniões das Amigas do Peito e isso foi muito importante nessa fase da minha vida. O início da maternidade foi um momento de muita solidão, nos grupos eu podia compartilhar com mulheres que viviam a mesma fase e problemas tão parecidos com os meus. Conheci muitas mulheres bacanas, fiz amizades e aprendi o quanto um grupo pode nos fortalecer. Pietro está com 1 ano e 10 meses e adora mamar. Descobri que amamentar é realmente um prazer e tudo o que vivenciei fez com que eu me engajasse nessa luta pelo direito de amamentar. Há pouco mais de um ano colaboro com as Amigas do Peito e faria tudo o que fiz de novo se tivesse que passar pelas mesmas dificuldades!

Depoimento publicado no Boletim Peito Aberto, ano 23, número 74, julho de 2011. Disponível em http://www.amigasdopeito.org.br/?paged=2




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