segunda-feira, 7 de abril de 2014

Contando o desmame do Pietro

Quando eu estava grávida do Pietro queria amamentá-lo até os dois anos. No começo tudo foi muito difícil, como eu já relatei em outro post, mas conseguimos vencer a batalha e ele seguiu amamentado exclusivamente até seis meses. Nesse período é que as coisas foram mudando dentro de mim. Aquele prazo que eu tinha estabelecido de dois anos (recomendação da Organização Mundial de Saúde) foi ficando de lado, e eu decidi que o amamentaria até quando ele quisesse. 

Quando se fala em desmame espontâneo ouvimos muitas coisas das pessoas. A primeira é que isso não existe, que se depender da criança ela vai mamar para sempre. Outra coisa bem comum de ouvir é que a opção pelo desmame espontâneo denota um problema na mãe, que na verdade ela não quer desmamar a criança, por isso prolonga a amamentação.

Bom, comigo aconteceu o seguinte: depois dos seis meses o Pietro começou a comer outros alimentos. Só com sete meses e meio foi gostar de comer. Eu amamentava quando ele pedia. Normalmente o apetite dele era tanto que mamava antes e depois de bater o pratão e a sobremesa. Depois dele completar um ano, foi para a creche. Quando estávamos juntos eu amamentava quando ele pedia. Mas nessa fase comecei a colocar limites. Se estivesse fazendo alguma atividade e não fosse conveniente a mamada naquele momento, explicava para ele e ele entendia perfeitamente. Nunca chorou ou fez chantagem para mamar. Ele pedia algumas vezes ao dia, brincava, comia sempre muito bem, e gostava de mamar para dormir quando estava comigo (nos dias de plantão ele dormia muito bem só com o pai, sem mamar).

Depois dos dois anos seguiu mamando. Mas ele mamava muito menos. Pedia algumas poucas vezes ao dia, pedia para dormir. E acordava uma vez na madrugada querendo mamar. Nessa época fiz o desmame noturno. Quando ele acordava, ao invés de dar o peito eu colocava a mãozinha dele no meu peito, ele sentia minha presença e voltava a dormir. Foi assim durante um tempo, até que ele passou a dormir a noite inteira.

Perto de completar três anos, Pietro começou a ter vergonha de ainda mamar. Se alguém perguntasse, ele negava que ainda mamasse. Pedia bem poucas vezes ao dia, e como eu fazia desde que ele tinha um ano, se eu estivesse envolvida em alguma atividade mostrava delimitava limites. Quando ele estava com três anos e três meses eu descobri que estava grávida. Não pensei em desmamá-lo por causa da gestação, mas os mamilos ficaram bastante sensíveis, e quando ele pedia eu muitas vezes ia recusando, distraindo com outras coisas. Ele continuou mamando na hora de dormir. Começou a dizer que o leite estava com gosto estranho. E em janeiro de 2013, em algum dia que eu nem sei qual foi, ele mamou pela última vez e eu nem senti que o desmame aconteceu. Natural, espontâneo e respeitoso para nós dois!

O que eu tenho para dizer é que desmame espontâneo existe. Ou melhor, desmame natural e com amor. As coisas entre nós foram se desligando tão calmamente, tão harmoniosamente e tão no tempo de cada um que não houve sofrimento. Assim terminamos nossa história de amamentação, tão bonita porque pôs a prova meu lado guerreira, porque foi o caminho para construirmos nosso vínculo que não pôde acontecer naturalmente através do parto, porque nos proporcionou uma troca afetiva inigualável.