segunda-feira, 7 de abril de 2014

Contando o desmame do Pietro

Quando eu estava grávida do Pietro queria amamentá-lo até os dois anos. No começo tudo foi muito difícil, como eu já relatei em outro post, mas conseguimos vencer a batalha e ele seguiu amamentado exclusivamente até seis meses. Nesse período é que as coisas foram mudando dentro de mim. Aquele prazo que eu tinha estabelecido de dois anos (recomendação da Organização Mundial de Saúde) foi ficando de lado, e eu decidi que o amamentaria até quando ele quisesse. 

Quando se fala em desmame espontâneo ouvimos muitas coisas das pessoas. A primeira é que isso não existe, que se depender da criança ela vai mamar para sempre. Outra coisa bem comum de ouvir é que a opção pelo desmame espontâneo denota um problema na mãe, que na verdade ela não quer desmamar a criança, por isso prolonga a amamentação.

Bom, comigo aconteceu o seguinte: depois dos seis meses o Pietro começou a comer outros alimentos. Só com sete meses e meio foi gostar de comer. Eu amamentava quando ele pedia. Normalmente o apetite dele era tanto que mamava antes e depois de bater o pratão e a sobremesa. Depois dele completar um ano, foi para a creche. Quando estávamos juntos eu amamentava quando ele pedia. Mas nessa fase comecei a colocar limites. Se estivesse fazendo alguma atividade e não fosse conveniente a mamada naquele momento, explicava para ele e ele entendia perfeitamente. Nunca chorou ou fez chantagem para mamar. Ele pedia algumas vezes ao dia, brincava, comia sempre muito bem, e gostava de mamar para dormir quando estava comigo (nos dias de plantão ele dormia muito bem só com o pai, sem mamar).

Depois dos dois anos seguiu mamando. Mas ele mamava muito menos. Pedia algumas poucas vezes ao dia, pedia para dormir. E acordava uma vez na madrugada querendo mamar. Nessa época fiz o desmame noturno. Quando ele acordava, ao invés de dar o peito eu colocava a mãozinha dele no meu peito, ele sentia minha presença e voltava a dormir. Foi assim durante um tempo, até que ele passou a dormir a noite inteira.

Perto de completar três anos, Pietro começou a ter vergonha de ainda mamar. Se alguém perguntasse, ele negava que ainda mamasse. Pedia bem poucas vezes ao dia, e como eu fazia desde que ele tinha um ano, se eu estivesse envolvida em alguma atividade mostrava delimitava limites. Quando ele estava com três anos e três meses eu descobri que estava grávida. Não pensei em desmamá-lo por causa da gestação, mas os mamilos ficaram bastante sensíveis, e quando ele pedia eu muitas vezes ia recusando, distraindo com outras coisas. Ele continuou mamando na hora de dormir. Começou a dizer que o leite estava com gosto estranho. E em janeiro de 2013, em algum dia que eu nem sei qual foi, ele mamou pela última vez e eu nem senti que o desmame aconteceu. Natural, espontâneo e respeitoso para nós dois!

O que eu tenho para dizer é que desmame espontâneo existe. Ou melhor, desmame natural e com amor. As coisas entre nós foram se desligando tão calmamente, tão harmoniosamente e tão no tempo de cada um que não houve sofrimento. Assim terminamos nossa história de amamentação, tão bonita porque pôs a prova meu lado guerreira, porque foi o caminho para construirmos nosso vínculo que não pôde acontecer naturalmente através do parto, porque nos proporcionou uma troca afetiva inigualável.

segunda-feira, 31 de março de 2014

Mandala do parto: experiência de ascensão e realização

Essa mandala é uma representação da minha experiência no parto. Foi desenhada quatro dias depois, a pedido da enfermeira obstétrica que me acompanhou (fiz uma cópia no scanner, o original está com ela).

A mandala: Interiorização - Força - Poder

O texto abaixo (está com alguns erros, como o próprio título - ascensão está com a grafia errada, pois foi feito enquanto me dividia em dar também atenção ao Pietro) descreve as sensações no parto poucos dias depois.


domingo, 30 de março de 2014

Relato de Parto Normal Após Cesárea (PNAC/ VBAC): nascimento da Maria Clara, curando feridas, honrando as ancestrais



A dor de uma mulher é o reflexo das dores das suas irmãs, mães e ancestrais e dependerá do seu fortalecimento e crescimento não perpetuá-la para suas descendentes.
(Mirella Faur, “O Legado da Deusa”)

            Curando feridas ancestrais
A história do parto da Maria Clara começou em 2011, quando resolvi fazer terapia para elaborar meus sentimentos em relação à cesárea desnecessária do meu primeiro filho. Além de querer me libertar das amarras do ódio, me chamava à atenção o fato de eu ser a terceira geração de mulheres na minha família a ser submetida a este procedimento. Quando minha mãe nasceu, em 1954, a indústria da cesárea ainda não havia sido instalada. Não era comum uma criança nascer dessa forma, o que significa que o procedimento de fato foi necessário naquela situação. Há alguns anos atrás uma psicoterapeuta com quem eu fazia terapia tinha me falado da Constelação Familiar, um tipo de terapia que trabalhava as situações dolorosas e repetitivas nas famílias. A Constelação é uma terapia sistêmica, entende que as relações familiares formam um emaranhado e que vivências de outras pessoas podem ser carregadas, principalmente se houve a exclusão dessa pessoa da família. Acontece através de um workshop, onde cada participante elege um tipo de problema para ser trabalhado e escolhe dentre os participantes quem irá representar os membros da família numa dada situação. Existem também psicólogos que trabalham individualmente com essa linha, e foi o que busquei.
O processo terapêutico foi bastante interessante: levantei toda a história da minha família, nos mínimos detalhes, até a ancestralidade mais antiga que conseguisse. Paralelo a esse trabalho de Constelação também aprendia a lidar com o sentimento de ódio gerado pela cesárea. Pouco a pouco fui me conhecendo um pouco mais: os efeitos da raiva e nervosismo no meu corpo, caminhos para trabalhar a energia da raiva, como amenizar a sensação de estresse através de exercícios de relaxamento e meditação. Meu terapeuta fazia hipnose ericksoniana, o que me permitiu ter incríveis experiências em contato mais direto com meu inconsciente. Nesse processo de autodescoberta, percebi que apesar de ter uma história de vida completamente diferente da minha avó, estava muito identificada com ela. Quando eu tinha seis anos ela faleceu, e isso foi um impacto muito grande para mim, pois foi repentino e foi meu primeiro contato com a morte. Pois bem, ao longo da terapia, um segredo de família veio à tona, revelado por um primo da minha mãe. Descobrimos que minha avó se apaixonou por um homem de etnia cigana. Minha avó ia fugir com esse homem, porém sua família a trouxe à força para o Rio de Janeiro e aqui ela se casou com meu avô, por quem não deveria estar apaixonada. Essa peça do quebra-cabeça me fez compreender o que provavelmente fez seu parto complicar: ora, se o parto é uma experiência da sexualidade, de amor, como se entregar a ele sem que tivesse chegado ali através do amor? Sabemos que no parto emergem questões emocionais, não seriam as complicações no trabalho de parto uma materialização do sofrimento que ela carregava? Mexer no passado através da Constelação permitiu conhecer esse capítulo doloroso da sua vida. Entendi que enquanto essa frustração ficasse oculta e não fosse reconhecida, ela se manifestaria através da cesárea. Era preciso conhecer esse pedaço da história da minha avó para resgatar o respeito e entendimento que não teve da família, tratar seu passado com a dignidade que merecia. Segui com o acompanhamento terapêutico até que me descobri grávida pela segunda vez.

A gestação
Descobri minha gestação na quinta semana. Foi um misto de felicidade e também de medo, mais um filho, novos desafios... Assim que soube da gravidez eu sabia também que teria de fazer diferente da primeira vez. Estava decidida dentro de mim que teria um parto domiciliar. Refleti muito durante dias. Eu percebia que eu não tinha outra escolha, a marca da cesárea seria um motivo a mais para algum obstetra tentar me colocar novamente na faca. E eu havia perdido completamente a confiança nesse profissional e não queria esse acompanhamento. Sou saudável e teria um espaço de quatro anos entre os dois nascimentos. Procurei uma pessoa querida, enfermeira obstétrica, para acompanhamento, mas por estar com muitos compromissos profissionais me deu duas indicações, de uma outra enfermeira obstétrica e de uma médica que não é obstetra, mas atua como parteira. Por conhecer mais de perto essa médica e compartilhar de algumas militâncias, decidi iniciar o pré-natal com ela.
Avisei ao meu marido sobre minha escolha. Ele não concordou. Agendei a primeira consulta de pré-natal e a parteira conversou bastante com meu marido, esclareceu dúvidas. Mas ele dizia que não mudaria de idéia, pensava que parto em casa não era seguro e afirmava que não seria convencido do contrário. Fiquei um pouco angustiada, porque da mesma forma que ele disse que não mudaria de idéia eu também não estava disposta a mudar. A experiência de ter o parto do meu filho roubado só me dava uma certeza: aquele parto era meu e ninguém iria me tirar. Se na pior das hipóteses ele discordasse veementemente, minha opção seria parir no SUS, onde as chances seriam muito maiores do que na rede privada. Mas a verdade é que eu estava disposta a assumir meu parto em casa e suas conseqüências mesmo sozinha.
Mandava vários textos sobre parto para o e-mail do meu marido. Um belo dia, num almoço de família, ele resolveu comunicar a seus parentes que nossa filha nasceria em casa. Foi um choque, sobretudo para a mãe e para a irmã dele. Eu tinha optado por não contar nada para minha família, apesar do meu pai ter nascido em casa. Não queria que ninguém interferisse ou opinasse numa escolha que era minha. Apesar de não ter ficado confortável em dividir essa escolha com a família do meu marido, percebi que ele ter tido essa atitude era uma demonstração da sua aceitação com relação a minha escolha.
Os meses foram passando, eu estava bem de saúde. O pré-natal era completamente diferente da outra gravidez, tão medicalizado. O pré-natal com a minha parteira, sim, era um acompanhamento de saúde. Comecei a fazer yoga, li alguns livros, assisti a uma palestra do Michel Odent. Era muita informação, e disso tudo comecei a perceber o que seria importante para que eu tivesse um bom parto. Algumas idéias de Odent me chamavam a atenção. Ele sempre fala da questão do córtex primitivo, de como a mulher precisa acionar esse local do cérebro no parto. Li um texto na Internet onde ele descrevia a forma das índias parirem, saindo sozinhas da tribo e mantendo-se isoladas em seu parto. Com o autoconhecimento da terapia sabia que esse era o caminho para que tudo desse certo no meu parto: romper com a minha extrema racionalidade, com meu controle excessivo e ficar sozinha, concentrada, me conectando com meus instintos e sem tentar controlar nada, principalmente meu corpo. Sabia que precisava virar uma mulher selvagem.
Fui pensando no meu plano de parto. Não queria música, aromas, velas... Queria tudo muito simples, queria poder me concentrar e me conectar com meus instintos. Sabia dentro de mim que para acessar esse lado primitivo era preciso recolhimento. Optei em ter o mínimo de pessoas comigo. Apenas meu marido e meu filho estariam em casa, a equipe seria a médica parteira e a auxiliar (a princípio a enfermeira que procurei primeiro). Para mim era gente suficiente e eu queria ficar o máximo possível sozinha.
Fui acertando detalhes, planejando a retaguarda. Diferente da primeira gestação, em que tive no máximo contrações de Braxton-Hicks e nem sequer entrei em trabalho de parto, comecei a ter contrações tipo cólica menstrual com 34 semanas, perdi um pouco de tampão mucoso com 37 semanas. Meu corpo dava alguns sinais de que estava trabalhando.
Com 38 semanas comecei a me sentir angustiada. Uma irritação, um mal estar. Não sabia o que me fazia mal. Uma noite resolvi sentar e escrever sobre meus sentimentos, como havia aprendido numa oficina literária. Escrevendo, organizando meu pensamento, consegui descobrir o que me assombrava: era o fantasma da cesárea, mais especificamente da oligohidramnia que tinha sido o motivo da cirurgia. Percebi naquele momento que o que me angustiava era o medo de naquele final de gestação ter que ser submetida a algum exame, e que esse exame desse algum problema, ou melhor, esse mesmo problema. Me assustava a possibilidade de chegar em 41 semanas, porque se isso acontecesse eu não teria como escapar do monitoramento. Percebi que a cesárea me deixou outra marca, a perda da confiança no meu corpo.
Foi fundamental essa compreensão. A partir daí iniciei um trabalho espiritual (não num sentido religioso, e sim de fé em mim mesma). Comecei a fazer reprogramação mental com afirmações positivas sobre a minha capacidade de parir, buscava me harmonizar através da respiração e fazia meditação orientada, buscando acessar minha voz interior. Cheguei em 39 semanas e decidi relaxar, fazer coisas que me dessem bem estar, curtir os últimos momentos da minha barriga. No dia 31 de agosto, o último sábado da minha gestação, me lembro de ter tido uma estranha sensação, de que ficaria grávida para sempre... No dia primeiro de setembro fui fazer uma sessão de fotos com a família, para celebrar a barriga. A data provável estava próxima, era dia 5 de setembro.

Pródromos
Na segunda, dia dois de setembro, acordei com um pouco de sangramento, eliminando uma secreção rosa. Fiquei bastante feliz, meu corpo estava em ação. Não telefonei para as parteiras, fiquei me observando ao longo do dia. Perdia aos poucos tampão mucoso, no final do dia fui para a yoga e quando voltei tive muitas contrações de Braxton-Hicks. Em casa, de noite, essas contrações foram mudando, foram ficando tipo cólica menstrual. Resolvi telefonar para contar as novidades. Conversei com as duas parteiras, elas me explicaram que o parto poderia ainda demorar mais uma semana. Mas não estava ansiosa, o mais importante era ver meu corpo trabalhar! No dia seguinte as contrações não aumentaram. Continuei tendo várias, porém sem ritmo. Meu corpo pedia para descansar, e assim fiz. Comecei a aproveitar aquelas contrações para descobrir posições que me permitiriam aliviar seu desconforto. Na quarta-feira saí com a família, caminhei bastante e tive várias contrações. Preferi não ir para a aula de yoga. Senti de noite minha filha pressionando minha pelve.

Virada da lua: sintonia com os ritmos da natureza
Algumas semanas antes, por curiosidade, eu tinha pesquisado sobre a influência da lua no parto. Fiz a contagem das luas: Maria Clara foi concebida na lua minguante, a data provável do parto seria na virada da nona lua minguante em lua nova, no dia cinco de setembro. No dia quatro alguém postou no Facebook a hora da virada da lua: lua nova a partir de umas oito da manhã do dia cinco de setembro. Na madrugada da virada do dia quatro para o dia cinco, não conseguia dormir. Umas três da manhã as contrações começaram a ganhar ritmo. Fiquei observando até quatro da manhã, e eram duas a cada dez minutos. Tomei banho para relaxar e as contrações espaçaram mais. Lá pelas seis voltaram a ficar ritmadas. Quase oito da manhã telefonei para minha parteira, ela pediu para observar mais depois que todos acordassem e disse que em casa que tem criança é comum as contrações espaçarem e voltarem a ficar ritmadas de noite.

Trabalho de parto
Quando meu filho acordou o ritmo das contrações diminuiu. Mantive minha rotina normal, fazendo as coisas da casa e procurando posições e movimentos que me dessem conforto durante as contrações. Fiquei na rede, me dependurei nela, mas o que me deixava mais confortável era rebolar ou sentar numa cadeira bem baixinha de guardar bloquinhos do meu filho, que me deixava meio que de cócoras. Não senti muita fome e comi muito pouco. Tive um pouco de diarréia, meu corpo foi aos poucos se limpando. Nesse dia estava agendada a consulta de pré-natal. A enfermeira que ia me acompanhar junto à médica parteira ia fazer uma viagem de alguns dias e tínhamos combinado de nessa consulta conhecer a outra enfermeira, que poderia substituí-la se necessário. Depois de umas três horas da tarde elas chegaram e comecei a ter muitas contrações. Conversamos, eu tinha colocado no meu plano de parto que não desejava toques, mas elas me perguntaram se poderiam fazer e eu acabei aceitando. Apesar de ter escrito que não desejava saber sobre a dilatação para poder me desvencilhar do meu lado controlador, acabei concordando. Acho que estava um pouco curiosa para saber como as coisas caminhavam... Estava com 5 cm. Elas acharam melhor não ficar na minha casa, conversaram comigo e com meu marido que ficariam por perto e retornariam assim que Pietro dormisse, mas que qualquer coisa de diferente que acontecesse era só ligar que elas viriam. O dia foi passando e eu procurava descansar um pouco entre as contrações. Quando anoiteceu meu marido arrumou tudo para o Pietro dormir mais cedo e incrivelmente ele apagou as oito da noite, coisa que ele nunca faz! Umas nove da noite as contrações foram ficando intensas e comecei a sentir uma pressão na região retal. Pedi para meu marido chamá-las.
Não faço a mínima idéia de quanto tempo elas levaram para chegar, nem sei exatamente o que fiquei fazendo. Meu marido disse que eu fiquei no quarto, andando, já dando urros nas contrações. Eu não me lembro mesmo disso! Lembro que elas chegaram e eu fui para o chuveiro, sentei na banqueta de parto e fiquei lá, urrando como uma mulher selvagem. Um monte de coisas foram passando na minha cabeça... Eu me preparei para sentir a dor que fosse, mas a intensidade daquelas contrações superava o que eu esperava. Me perguntei como eu tinha escolhido estar ali, mas quando pensei em qual seria a outra alternativa – uma cirurgia – me entreguei de vez ao meu parto, pois essa outra alternativa eu abominava. Lembrei de duas amigas falando de seus partos: “a dor te joga no chão”, “sobrevivi ao parto normal”. A cada contração eu me entregava. Estava na minha casa, no meu território, poderia urrar quando quisesse e como quisesse. Às vezes passava pela minha cabeça se eu conseguiria agüentar até o final. Senti enjôo, mas não cheguei a vomitar. Num dado momento a bolsa rompeu, mas não lembro se fez algum som ou se eu senti o líquido escorrendo. As contrações ficaram menos dolorosas e os puxos foram chegando.


Parto: entrega à essência primitiva
Meu marido tinha ficado inflando a piscina. Eu queria colocá-la no quarto, mas ficaria grande e dificultaria a passagem das parteiras. Elas optaram por colocar na copa, mas eu não quis ir para lá e preferi ir para meu quarto. O ambiente estava escuro, apenas iluminado por uma luminária. Fiquei muito tempo de quatro apoios. Nesse momento as contrações eram diferentes, não mais dolorosas. Elas exigiam força, muita força. Exigiam que meu corpo inteiro trabalhasse. E quando elas vinham eu me entregava, urrava, fazia força. Ficava sempre de olhos fechados, era como se eu precisasse olhar para dentro de mim em busca da força para parir. Como fiz hipnose por um bom tempo, percebo que no momento do expulsivo, na verdade desde a hora que fui para o chuveiro, entrei num estado alterado de consciência. Eu tinha uma certa noção do que acontecia ao meu redor, mas minha mente estava num outro plano. Muitas vezes na hipnose, quando eu começava a entrar nesse estado alterado de consciência, via uma luz branca e isso aconteceu em muitos momentos nos intervalos entre as contrações. Fiquei em quatro apoios, voltei para a banqueta de parto. Meu corpo todo trabalhava a cada contração, e pouco a pouco fui me sentindo muito cansada, exausta. Parecia que a força estava acabando, mas eu tinha que encontrar forças... A parteira assistente, a quem fui apresentada naquele dia, mas que parecia que já conhecia há muito tempo, me falava palavras de encorajamento, que eu estava conseguindo, que muitas mulheres no planeta estavam parindo naquele momento, que de manhã eu já estaria amamentando minha filha. Tudo isso ela foi falando aos poucos, em voz baixa, apenas quando eu retrucava dizendo que estava cansada. Elas me sugeriram outras posições e acabei indo para a cabeceira da minha cama. Sentei com a perna esquerda fletida e a direita estendida. Comecei a achar que estava demorando, que não ia conseguir. E aí que a parteira me disse que a Maria Clara estava chegando, que se eu tocasse eu poderia sentir a cabeça dela. Me lembro apenas dela dizendo isso, de colocar a mão, mas segundo a parteira assistente nessa hora eu abri um grande sorriso, e assim eu pari a minha filha! Ela nasceu no último minuto do dia cinco de setembro, quando completou quarenta semanas! Senti o círculo de fogo e permaneci de olhos fechados, olhando para dentro de mim. Quando a Maria Clara veio para meus braços olhei para ela e me veio uma sensação indescritível... Eu não acreditava que tinha conseguido trazer minha filha ao mundo! Olhava para ela encantada, fascinada por aquele milagre que eu tinha vivido. Toda dor sumiu de repente, como magia! Fiquei sentindo aquele delicioso cheirinho da minha filha coberta de vérnix caseoso, olhando para ela, seus olhinhos, seus cabelos escuros, dando boas vindas... Não me lembro ao certo o que disse, mas a sensação que tive foi marcante, foi de um amor instantâneo e visceral. Pedi para chamar meu marido. Ficamos juntas, eu esquentava seu corpo com o meu e ela foi sendo enrolada no meu colo. Ofereci o peito, mas ela não quis mamar. O cordão umbilical foi cortado pelo meu marido somente quando parou de pulsar e meia hora depois a placenta tinha sido expulsa. Um tempo depois Maria Clara quis mamar e permanecemos juntas por toda a madrugada. Minha filha foi recebida nesse mundo num ambiente de amor.
Surpreendentemente meu filho não acordou um minuto sequer, mesmo com todo o barulho que fiz. No meio da madrugada ele acordou e veio para a nossa cama, mostrei para ele que a irmãzinha havia nascido, ele começou a falar um monte de coisas e deitou na cama para dormir conosco. No começo do dia comuniquei para toda a minha família que minha filha havia nascido em nossa casa.

O legado do parto
A sensação de parir é algo indescritível. É um misto de encantamento, uma sensação de poder, uma felicidade, realização plena... Para entender é preciso passar por esse portal e eu acho que é por isso que as mulheres pró-cesárea se irritam quando falamos do poder do parto. É uma sensação que a cirurgia nunca vai te dar e que você nunca vai sentir em outra experiência da vida. A lição que aprendi com o parto foi da entrega, de que há momentos e situações na vida que é preciso se entregar de corpo e de alma. E nisso o parto se aproxima da morte, afinal a morte exige total entrega ao desconhecido. A experiência do parto também me mostrou uma força em mim desconhecida, me mostrou o que é o poder feminino. Nos dias que se seguiram ao parto me senti completamente feliz, realizada, ocitocinada!
O parto da Maria Clara teve muitos significados. Significou a minha ruptura e enfrentamento do perverso sistema obstétrico brasileiro. Simbolizou a conquista do meu empoderamento, um empoderamento consciente em que percebi que não bastava somente buscar conhecimento, era preciso buscar dentro de mim a confiança no meu poder feminino, acreditar na perfeição dos nossos corpos parideiros. Simbolizou o fim de um ciclo e a cura de uma ferida ancestral. Foi o renascimento do parto na linhagem feminina da minha família. A escolha do nome Maria Clara se deu porque sempre quis colocar Clara numa filha. Meu nome, Clarissa, deriva de Clara e tem o mesmo significado. Acabei escolhendo Maria para integrar meu filho nessa escolha, já que ele cismou desde o começo que queria que a irmã se chamasse Sandra Maria. Coincidentemente minha filha, com seu nome composto, une duas gerações de mulheres parideiras: a da minha bisavó Maria, mãe da minha avó e que pariu todos os seus filhos em casa, e a minha. Assim como minha bisavó, pari em casa e resgatei o parto como forma de nascer nessa família, rompendo com a repetição de uma história de nascimentos violentos e desumanos.

Relato de Cesárea: nascimento do Pietro, morte e renascimento de uma mulher


        Minha história é igual a de muitas e muitas mulheres do Brasil. Engravidei do Pietro em 2009, aos 30 anos, tive uma gestação de baixo risco. Fui acompanhada por uma obstetra através do plano de saúde e busquei essa profissional porque outros profissionais da área elogiavam seu trabalho, afirmavam que ela respeitava a escolha da mulher no parto e só indicava cesariana se houvesse um real problema clínico. Tive um pré-natal com muitas intervenções -  muitos exames laboratoriais, de imagem (ultrasonografia, doppler), toques a partir de 37 semanas. Foi também a partir de 37 semanas que começou o “monitoramento semanal”. Fiz uma ultrasonografia , e na metade das 38 semanas o perfil biofísico fetal. No dia desse exame estava bem, tinha feito consulta com a obstetra pela manhã. De tarde fui fazer o exame. A clínica estava lotada, fui atendida no início da noite.  Fiz uma cardiotocografia e a ultra no final. Foi nesse momento, em que é dada uma pontuação para alguns quesitos relacionados ao bem estar do feto, que o médico me informou que meu útero “já não era um hotel cinco estrelas, porque o líquido amniótico estava diminuído”.  Falou que a situação era de risco, que com menos líquido o cordão umbilical poderia ser comprimido e causar uma redução da oxigenação para meu filho, podendo levá-lo a óbito. Me informou que já tinha telefonado para a minha obstetra e sugerido a interrupção da gestação. Saí da clínica transtornada e telefonei imediatamente para ela. Ela confirmou o telefonema dele e concordou com o que ele sugeriu, me dizendo que talvez tivesse de interromper minha gestação com uma cesárea. Argumentei sobre a possibilidade de uma indução, e ela disse que não, “não colocaria um pré-natal tão bom a perder”. Também argumentei se não haveria um erro no exame e ela negou que isso fosse possível. Perguntei porque aquilo havia acontecido, eu estava bem, não perdia líquido, e ela disse que eu estava com uma “insuficiência placentária”. Sugeriu que eu repetisse o exame em dois dias.  Fiquei transtornada, achando que meu filho poderia ter algum problema, com medo que ele pudesse morrer. Fui para casa péssima, junto ao meu marido, que teve que fazer um chá para que eu me acalmasse. Consegui dormir, e já na manhã seguinte a obstetra me ligava, dizendo que seu marido, pediatra, estava na clínica P. e encontrou a drª Y, e que ela pensou melhor e achava que eu tinha que ir lá e repetir o exame logo. Fui, dessa vez sozinha, pois meu marido tinha de trabalhar, e a tal drª Y me disse que quase não via líquido. Fiz uma cardiotoco e a drª Y telefonou para a minha obstetra. Por telefone mesmo ela indicou a interrupção da gestação. Ia fazer uma cesárea de urgência e já deixaria marcado o centro cirúrgico para oito da noite. Ah, e se eu precisasse de alguma coisa era só ligar para ela, que estava trabalhando na secretaria de saúde. Fiquei sozinha e desamparada. Chorando muito. Não voltei para casa, já era de tarde, falei por telefone com meu marido, que passaria em casa, pegaria minhas coisas e iria para a clínica P. A noite chegou, drª P. chegou, nem uma conversa decente teve comigo, que estava emocionalmente péssima. Fui para o centro cirúrgico e minha cesárea não teve nada de humanizada. A única coisa que ela me perguntou era se eu queria ver meu filho sendo arrancado das minhas entranhas. Obviamente que eu não quis. Quando ele foi extraído apenas ouvi seu choro, não sei o que aconteceu, depois colocaram seu rosto junto ao meu e o levaram. Nada de mamar na primeira hora, apenas esse breve contato. A anestesista perguntou se eu queria dormir, perguntei por quanto tempo, ela disse que somente enquanto me suturavam, aceitei que ela me apagasse. Acordei quando estava sendo levada para o quarto. Meu filho foi ficar comigo umas três horas depois que nasceu porque pedi para meu marido insistir junto ao berçário para levarem ele para o quarto, e o início da amamentação foi terrível. Sem posição para amementar, anestesiada, não tive ajuda da equipe de enfermagem e na manhã seguinte os mamilos estavam vermelhos. Recebi alta com os mamilos muito machucados. Tive muitas dificuldades para amamentar, mas busquei ajuda. Fiquei muito triste, além do luto do não-parto ainda passava por aquela transição hormonal do puerpério, chorava muito, tive baby blues. A sensação que eu tinha era de um vazio que eu não sabia explicar. Olhava para meu filho, tão lindo, tão pequenino, e sentia um estranhamento. Aquele ser estava dentro de mim? Foi meu corpo que o gerou?A amamentação ajudou a cicatrizar a ferida que a cesárea deixou no meu espírito e construir o vínculo com meu filho. Um grupo de mães foi muito especial para mim no sucesso da amamentação, e também para me ajudar a acordar do torpor no qual eu estava envolvida. Nessas reuniões conheci ativistas do parto. Essas mulheres me questionavam sobre a indicação da minha cesárea, que eu acreditava ter sido necessárea. Até que um dia, quando meu filho tinha quase onze meses, uma dessas ativistas me falou algo que me fez parar e pensar: ela questionou o excesso de exames a que fui submetida e disse que atualmente diminuição de líquido amniótico tem sido motivo de indicação para muitas cesáreas desnecessárias.
 
Exumando a cesárea
Eu, que estava entorpecida, até então não tinha pesquisado mais sobre a indicação da minha cesárea. A dor de passar pela cirurgia foi muito grande, então acreditar que o procedimento realmente tinha sido necessário me ajudava a ir superando o sofrimento do não-parto. Após aquele questionamento comecei a pesquisar na internet e descobri tantas coisas... Descobri a verdade. Foi muito doloroso e essa revelação para mim mesma fez a ferida novamente sangrar. Me sentia uma completa idiota por ter acreditado nessa profissional, me sentia a pior das mulheres e a pior das mães. Vivi novamente o luto do meu não-parto. Aos poucos fui elaborando isso tudo dentro de mim, confrontando essa dor. E conforme as coisas se ajustavam, foi nascendo um ódio muito grande dessa médica. Fui aos poucos me perdoando, mas não era possível perdoá-la. Por muito tempo me sentia assim: sofrida por ter tido meu parto roubado, com um profundo ódio da obstetra.
Entendendo os motivos da minha cesárea
Durante muitos meses eu me perguntava: por que isso aconteceu comigo? Encontrei muitas respostas ao longo dos anos. A primeira coisa que percebi é que essa cesárea era a repetição de um padrão na minha família. Eu era a terceira geração de mulheres que passava por cesárea. Minha avó, nascida em casa no interior da Bahia, veio para o Rio de Janeiro e teve minha mãe em 1954 através de uma cesárea que aconteceu porque minha mãe entrou em sofrimento fetal durante o trabalho de parto. Depois a minha avó teve um filho à fórceps e com uma episio monstruosa, segundo conta minha mãe, e um terceiro filho, nascido de cesárea. Minha mãe me teve através de uma cesárea. Cheguei a 42 semanas de gestação, e meu tio, que era o obstetra, induziu por 24h. A indução falhou e ela passou pela primeira cesárea. Meus irmão nasceram da mesma forma. E eu repeti a história das mulheres da minha família. Para mim aquilo tinha algum significado. Há alguns anos eu tinha ouvido falar de uma terapia chamada Constelação Familiar, baseada em cuidar dessas situaçãoes que se repetem nas famílias. Sabia que precisava cuidar dessa questão. Mas não era só isso. Ao longo das últimas décadas a indústria da cesárea deslanchou no Brasil e eu tinha sido vítima dela. A mulher que deseja parir nesse país precisa ser esperta e perspicaz, conhecer as armadilhas e artimanhas utilizadas pelos “doutores cesaristas”. E eu era completamente ingênua, pois nunca me aprofundei em buscar informações a respeito dessas armadilhas, já que a obstetra era tão bem referenciada e eu acreditava que o mais importante era ter uma equipe que eu pudesse confiar. Eu não conhecia listas de e-mail, grupos virtuais. Ora, se eu conhecia duas mulheres do meu trabalho que pariram com a drª P. e todo mundo dizia que ela não indicava cesárea sem necessidade, por que eu iria me preocupar? Consegui compreender depois dessa experiência que a minha ingenuidade nada mais era do que uma expressão da submissão feminina perante o patriarcado. Porque a gente cresce com um monte de práticas e costumes machistas que vão se enraizando, conceitos que se introjetam e que nunca questionamos. Nessa relação com o saber médico eu me comportei como a menina inocente e incapaz de fazer escolhas para sua vida, para seu corpo, a menina obediente que confia cegamente no pai e executa suas ordens sem questionar. Apesar de tão crítica para coisas externas eu estava completamente alienada de mim mesma, do meu poder de decisão sobre meu corpo e sobre a minha feminilidade.  Por isso eu fui um joguete na mão dela. Ela percebeu isso e manipulou toda a situação conforme foi conveniente para ela. E tenho quase certeza de que ela também acreditou que eu ficaria para o resto da minha vida entorpecida.


Parto roubado: porque minha cesárea foi desnecessária
Embora algumas pessoas questionem o que eu digo quando conto minha história, eu afirmo com todas as letras que sim, minha cesárea foi desnecessária. Foi desnecessárea porque eu não tinha que ter feito perfil biofísico fetal. Esse exame, como descobri posteriormente, é indicado para grávidas hipertensas, diabéticas, enfim, doentes, o que eu nunca fui. Eu não tinha nem mesmo que ter feito a ultra com 37 semanas. Minha cesárea foi desnecessária porque mesmo que eu estivesse com tão pouco líquido a conduta a ser adotada seria indução. Isso está muito claro em protocolos do Ministério da Saúde. Se a indução falhasse, aí sim a cesárea teria sido necessária. Questiono o resultado dos exames. Questiono, ainda, o nível da relação entre a obstetra e os médicos que realizaram os exames, principalmente depois que assisti o filme “O Renascimento do Parto” e descobri que existem médicos que combinam resultados alarmantes com ultrasonografistas para embasarem falsas indicações de cesáreas. O ultrasonografista que fez o perfil biofisico foi recomendado pela obstetra, e o fato dele ter telefonado para ela ao fazer o exame foi muito estranho. Eu não tenho provas para acusar ninguém, no entanto me questiono porque tanta “preocupação” em telefonar para discutir meu caso. E o laudo da drª Y de que eu quase não tinha mais líquido, isso em menos de vinte e quatro horas após o primeiro exame e sem eu ter notado perdas, também é duvidoso. Há alguns meses, depois de ler um livro – Parto Alquímico – consegui perceber um outro detalhe na minha história: a pressão para eu repetir o exame na manhã seguinte ao perfil biofísico foi uma forma de não me dar tempo para deixar a poeira baixar e procurar outra opinião, para não me dar tempo de pensar. Porque se eu tivesse me acalmado ao longo do dia eu teria procurado meu tio obstetra e ele poderia ter me ajudado. A entidade nosológica “insuficiência placentária” sempre foi mal explicada. Numa consulta depois da cirurgia, questionei a obstetra sobre aquele diagnóstico, como teria surgido o problema, porque afinal de contas eu não tive nenhuma alteração na gestação. A sua resposta foi que “gravidez é uma caixinha de surpresas”. Por fim, realizando o pré-natal da minha filha, três anos após a cesárea, resolvi um dia olhar os exames do pré-natal do meu filho para comparar a quantidade de intervenções. Fiquei surpresa ao encontrar mais dois pedidos de perfil biofísico fetal, pra serem feitos com 39/40 semanas e 40/41 semanas. Aquilo me deu certeza de que a cesárea já estava premeditada, eu é que fui tola demais para perceber.
Concluindo

A cesárea deixa um vazio muito grande, inexplicável. É uma sensação de que faltou algo, de que um capítulo foi pulado. Fico tentando entender o porquê disso. Acho que quando o corpo não entra em trabalho de parto é como se o inconsciente entendesse que a cria morreu, não vingou. Sei lá, é estranho... Quando meu filho tinha pouco mais de 18 meses fui fazer terapia. Queria me libertar de tanto ódio por ter tido meu parto roubado. Fiz hipnose, fiz Constelação Familiar. Descobri nós familiares e identificações que geraram esse desfecho doloroso – a cesárea – nas mulheres da minha família. Trabalhei muito a minha raiva. Entendi que esse sentimento é legítimo e deve ser usado para mover, para caminhar, para transformar. Aceitei meu ódio, me aceitei como um ser que tem direito a ter esse sentimento, fui olhando sob outros prismas minha história. Minha meta era expressar toda a dor e raiva que senti para a obstetra, o que consegui pouco depois do meu filho completar três anos, através de um e-mail. Percorrer esse caminho foi doloroso, mas foi transformador, porque me permitiu autoconhecimento e um empoderamento que eu não tinha. Ficar entorpecida é mais fácil, mas não faz crescer. Hoje eu não sou mais a moça ingênua, hoje eu sou uma mulher consciente do meu corpo, dona das minhas escolhas e questiono toda e qualquer intervenção médica em mim ou nas minhas crias. Não guardo culpa por ter passado pela cesárea. Nos grupos pró-parto costumo ler opiniões de mulheres que dizem que quem passa por cesárea é porque não queria de verdade ter um parto, porque não buscou informação, porque não quis se empoderar. Não gosto desse discurso, que para mim equivale a culpar a vítima de um estupro porque estava com roupa inapropriada em local de risco. O terrorismo que eu passei, que muitas mulheres passam, é violência obstétrica. A atitude desses profissionais é covarde, porque eles se aproveitam do momento de vulnerabilidade da mulher na gestação e no parto para manipular e fazerem intervenções. Temos, sim, que nos informar. Mas nenhum profissional possui o direito de exercer poder sobre o outro usando seu conhecimento como arma de tortura. Ninguém tem o direito de violar o direito do outro, por mais desinformado e ignorante que esse outro seja.