terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Kepinas e Slings


A prática de mulheres carregarem seus bebês junto ao corpo é muito antiga e comum em diversas culturas. Observamos que as indígenas do Brasil, dos Andes, mulheres africanas, chinesas, carregam seus bebês dessa forma. Além de facilitar a vida da mulher para a realização de muitas atividades ao mesmo tempo em que está com seu bebê, é uma forma de fortalecer o vínculo e facilitar a amamentação. Sempre vi mulheres e homens carregando seus bebês no famoso canguru. Mas em 2004, num Congresso de Ecologia do Parto, é que vi pela primeira vez um sling e desejei ter um quando fosse mãe.

Foto tirada em Quito. Lá, carregar o bebe nas costas é comum
Bebê recém nascido quer colo, sentir nosso cheiro, nosso contato. Entretanto, o que as pessoas sempre repetem, sem ao menos refletirem sobre o que dizem, é que colo vicia e tem que ser negado, pois o bebê precisa se acostumar a ficar no berço ou carrinho, com a falta de contato. Ora, se ele passa 9 meses no útero, onde tem calor, aconchego, proteção, como vai, de uma hora para outra, se sentir a vontade num ambiente totalmente diferente? Por isso é que o colo é totalmente necessário nessa fase de adaptação. Além disso, pesquisas vêm mostrando que esse contato com a mãe só traz benefícios para o bebê.


Sempre evitei negar colo. Carrinho, só foi usar quando Pietro tinha quase 6 meses. E não foi por causa disso que ele se tornou dependente, pelo contrário, aos 8 meses era complicado sair com ele, pois não parava quieto e queria sempre sair para engatinhar, explorar o ambiente. Ainda bem que dei muito colo, pois chega uma fase (pelo menos para a criança que pôde viver bem esse contato) em que eles querem conhecer e explorar o mundo, fora dos braços da mãe.

Índia do Xingu amamentando na kepina 
De tudo que se pode ter num enxoval, para mim o item mais útil, versátil e que se tornou indispensável foram os carregadores de bebês. Na gestação eu adquiri dois tipos, a kepina e o sling. A kepina é um quadrado de pano que é dobrado ao meio, formando um triângulo. Amarramos as duas pontas da base desse triângulo, apoiamos no ombro e passamos a ponta que sobrou por entre as pernas do bebê. Essa ponta fica entre a nossa barriga e a barriga do bebê, dando sustentação e segurança. A kepina é utilizada pelas índias na Amazônia e na Argentina, e aqui no Brasil é vendida pelo grupo de mães Amigas do Peito. Existe um outro tipo de kepina que é uma faixa retangular já costurada chamada de sling pouch.

Outro carregador que utilizei muito foi o sling tradicional, de argola. Ele é uma faixa plissada de pano que prendemos nas argolas, regulando o tamanho. Uma grande faixa de tecido fica solta e pode ser utilizada para aquecer o bebê e até proteger dos olhares durante a amamentação. O bebê pode ficar em várias posições: deitado, barriga com barriga, olhando de frente (posição de Buda, mas só dá para colocar o bebê assim a partir de 4 meses, quando sustenta a cabeça).

Posição de Buda
Pietro feliz da vida, indo passear no wrap sling
Mais tarde eu descobri um outro tipo de sling, o wrap sling. Eu sempre desejei carregar Pietro nas costas e descobri que poderia usando esse modelo. O wrap sling é uma longa faixa de tecido (acho que deve ter uns 3, 4 metros) e para cada posição tem um tipo de amarração. Eu adquiri esse sling quando ele tinha uns 8 meses, saía com ele olhando para a frente, para o mundo, e ele se amarrava! Em casa colocava ele nas costas, mas somente algumas vezes, pois o processo é complicado. Era bom para fazer coisas da casa e ele sempre dormia.

Pietro recém nascido, 12 dias de vida, no sling
As vantagens dos carregadores? Muitas! Usei pela primeira vez quando Pietro tinha 6 dias. Fomos para o Banco de Leite Humano da Maternidade da Praça XV com ele dentro do sling de argola. A partir daí só saia com ele assim. Era colocar e ele dormia... Muitas vezes nem tirava ele dali, ficava dormindo juntinho, sentindo meu cheirinho e era como se eu estivesse gestando ele de novo. Li "Quase Memória", de Carlos Heitor Cony, com ele assim, coladinho. Me emocionava com aquela linda declaração de amor do autor ao seu pai ao mesmo tempo que aconchegava a minha cria. Mas a maior revolução dos carregadores na minha vida foi durante a fase das cólicas. Dentre tantas tentativas de enfrentar o problema resolvi criar a minha solução, baseada em alguns relatos de outras mães. Num dia de crise, coloquei ele no sling e liguei no canal de Bossa Nova da TV a cabo. Ao som da Bossa, com ele como se estivesse de volta ao meu ventre, dançava naquele ritmo, embalando. Foi certeiro: naquele enlevo, o menininho apagou! A partir daí ele ia direto para o sling nas crises de cólica.

Embalando Pietro em uma crise de cólicas
Outras vantagens são a autonomia para fazer algumas coisas em casa, mas claro, com cuidado, pois o bebê está ali, coladinho na gente. Mais agilidade para andar nas ruas, afinal as calçadas do Rio de Janeiro não são nem um pouco apropriadas para os carrinhos de bebê. Mais facilidade para colocar o bebê para dormir. E claro que não podemos esquecer, a praticidade para amamentar. Muitas vezes eu estava andando pela rua e ele queria mamar. Era só colocar o peito para fora e ele mamava ali dentro. Muito gostoso!

Sling também é para o pai

Dormindo na kepina
A kepina só foi utilizada a partir de 1 mês. Aí eu revezava o uso de um ou outro carregador. Como logo começou o verão eu acabei preferindo a kepina por um bom tempo, por ter menos pano e ser mais fresca. Mas era uma questão de fases, algumas vezes preferia a kepina, outras o sling ou o wrap sling. Usar qualquer carregador, eu recomendo a todas as mães! Nada melhor do que ter nossa cria bem juntinho, o máximo de tempo que podemos, pois essa fase passa tão rápido...