sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O difícil retorno ao trabalho

Há algum tempo tenho pensado em escrever sobre como foi a experiência de voltar da licença maternidade. Para as mães que trabalham, esse é um momento crítico, uma transição difícil. Depois de meses de dedicação integral e uma troca tão intensa, vem essa separação. Aí vem aquele estresse, aquela preocupação... Como vão ser as coisas, como vai ficar o bebê? Apesar de difícil, as coisas se organizam. A gente se adapta, o bebê também. E de certa forma é até bom esse retorno, para a gente olhar para um outro lado nosso que não seja só o lado materno. O que eu desejo escrever aqui não é sobre a transição dessa separação com o bebê, mas a nossa adaptação ao retorno ao trabalho.

Trabalho em dois lugares com perfis totalmente diferentes e a volta foi bem peculiar para cada um deles. No hospital tive 6 meses de licença (4 maternidade e 2 amamentação). Consegui, ainda, emendar 2 meses de férias. Quando eu voltei o Pietro estava com 8 meses. No outro trabalho fiquei 1 ano e um mês afastada (4 meses de licença maternidade, licença amamentação até Pietro completar 1 ano e mais um mês de férias). Apesar dos processos de trabalho diferentes, um sentimento foi comum: uma pontinha de insegurança, porque depois de tantos meses fora era como se eu estivesse começando de novo.

O processo de trabalho no hospital permaneceu o mesmo. As mesmas rotinas, os mesmos procedimentos. Quase um ano fora, algumas coisas fui aos poucos resgatando e lembrando com a ajuda dos colegas, sempre gentis. A assistência hospitalar exige da gente destreza para executar procedimentos, que sem a prática se perdem. A primeira punção venosa depois desse afastamento foi meio estranha, consegui puncionar, porém sem aquela segurança que eu tinha com a prática diária. Mas fui repetindo cada vez mais os procedimentos, de forma que em pouco tempo já estava craque de novo.

Meu outro trabalho é na esfera gestora, burocrático. Lá, encontrei um cenário totalmente diferente: pessoas novas, rotinas novas, um ambiente altamente competitivo. Ali foi difícil voltar, me readaptar. Primeiro, porque o ambiente não foi acolhedor, como foi junto a equipe do meu plantão no hospital. Chegar num ambiente com pessoas novas em que ninguém se apresenta para você e ninguém te apresenta para essa nova equipe é complicado, ainda mais para uma pessoa tímida como eu. E pelo dinamismo do próprio trabalho, tive que correr muito atrás das informações novas que chegaram, das mudanças de protocolos. Tive que aprender e reaprender muitas coisas de novo. Depois de alguns meses entrei novamente no ritmo.

O grande problema é que nem todo mundo entende esse processo do retorno, ainda mais quem tirou pouco tempo de licença maternidade ou nem sequer vivenciou isso. Um amigo me disse que há um preconceito no trabalho com a mulher que retorna de licença maternidade, as pessoas pensam que a gente 'abandonou' o trabalho, largou tudo em cima deles. Não sei se isso justifica o ambiente que encontrei nesse meu segundo emprego.

Acho muito saudável voltar a trabalhar. Se eu ficasse apenas cuidando do meu filho penso que depois de algum tempo eu ficaria bitolada, que nem aquelas mulheres que só sabem falar da casa, da família, dos filhos (por favor, sem preconceito com quem é assim!). Somos mulheres e representamos diversos papéis. Para o nosso crescimento, é fundamental desenvolver ao máximo cada um deles.

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