sábado, 28 de janeiro de 2012

Receitas de Papinhas

Antes de começar com as comidinhas eu pesquisei um pouco sobre o assunto. Minha principal referência acabou sendo um manual do Ministério da Saúde, que referencio abaixo. O que me deixou impressionada foi o fato de alguns profissionais ainda não estarem atualizados e recomendarem coisas que o próprio Ministério da Saúde refere como ultrapassadas. Sopinhas, por exemplo. Não devem ser dadas para os bebês, são diluídas, com pouca concentração de calorias, o que pode comprometer o ganho de peso. Peneirar os legumes também é um erro. Pela própria dificuldade de limpeza da peneira, ela pode ser fonte de infecções. Os alimentos devem somente ser amassados, esse procedimento facilita, inclusive, o aprendizado da mastigação, a aceitação de alimentos mais sólidos. E o açúcar e o sal? O correto é evitá-los até os dois anos. Quem não conhece algum pediatra que orienta colocar geleia de mocotó, farinha láctea e outras porcarias cheias de açúcar nas frutinhas, aos seis meses? Pois é. A gente precisa se informar muito, até para argumentar com esses profissionais.

Minhas pesquisas foram me ajudando a definir como prepararia os alimentos. Sempre preferi cozinhar os legumes no vapor, pois preserva muito mais os nutrientes, e foi assim que comecei. Cozinhava um pedaço pequeno deles, amassava, colocava só um pouquinho de água filtrada para deixar mais pastoso. Sempre priorizava cozinhar os legumes na hora de oferecer, pois eles perdem nutrientes quando congelados. Como fazia os legumes no vapor, preparava as carnes a parte e congelava as porções, pois as proteínas já não têm o mesmo problema que vegetais e legumes. Refogava na cebola e bastante tomate, sem nenhum sal, temperava com salsinha. Usava um saquinho daqueles tipo zip para congelas as porções para cada refeição, que são 2 colheres de sopa de proteína/ carne. Esse manual também é bom porque tem uma tabela com essas quantidades. O arroz era cozido sem sal, meio papa, e as porções congeladas. Eu também fazia bastante arroz integral, mas era na panela de pressão. E o feijão era sem sal, refogado só em fiapinho de alho. Eu cozinhava na panela de pressão, batia para fazer o caldo, congelava em forminha de gelo e ia tirando as pedrinhas e refogando nas refeições. Aos poucos fui amassando o feijão, deixando de bater. Com o tempo fui ficando craque e as coisas fluindo com mais agilidade.

Depois de um tempo achei que deveria variar o cardápio. Só legumes cozidos no vapor com arroz ou macarrão, feijão e uma proteína era monótono. Foi então que encontrei as receitas que posto abaixo. São bem simples e me deram uma base para eu criar as minhas. Elas nada mais são do que uma proteína ensopada com legumes. Como há essa preocupação com a concentração energética, a gente cozinha até ficar com pouca água, aí a consistência fica pastosa, bem longe de ser líquida. As receitas ajudam a gente a aprender a combinar os ingredientes. Eu comecei a variar, dando essas papinhas na janta. Também fazia e congelava porções, me facilitava a vida quando saia ou quando por algum motivo não dava tempo de preparar a refeição. Ah, existe uma linha que critica as comidas caseiras congeladas para bebês por causa da perda de nutrientes. Tudo bem, isso acontece. Mas num momento de sufoco, entre dar a minha papinha ou a industrializada, não tenho nem dúvidas que a caseira é muito melhor!

As referências da obra de onde foram copiadas as receitas: SAÚDE DA CRIANÇA: Nutrição Infantil, Aleitamento Materno e Alimentação Complementar, Ministério da Saúde, Cadernos de Atenção Básica, nº 23.

Papa de abóbora (jerimum), folha de taioba e carne
Ingredientes
1 pedaço médio de jerimum (150g)
1 colher das de sopa cheia picada de taioba (ou outra folha verde escura)
2 colheres das de sopa cheias de carne moída (50g)
1 colher das de chá de óleo
1 colher das de café rasa de sal
1 colher das de chá de cebola ralada
1 pitada de orégano
Modo de preparo
Descascar o jerimum e cortá-lo em pedaços pequenos. Lavar bem as folhas de
taioba e picar. Colocar o óleo em uma panela pequena e refogar a cebola, colocar
os pedaços de jerimum e a carne moída e acrescentar dois copos de água. Deixar
cozinhar até o jerimum ficar macio. Antes de a água secar, adicionar a taioba picada e o orégano. Quando a papa estiver com consistência pastosa e com pouca
água, desligar.

Papa de batata, espinafre, cenoura e galinha
Ingredientes
1 batata média (100g)
½ cenoura (50g)
1 colher das de sopa cheia picada de espinafre (ou outra folha verde escura)
2 colheres das de sopa cheias de galinha desfiada ou 1 coxa (50g)
1 colher pequena de óleo
1 colher das de café rasa de sal
1 colher das de chá de cebola ralada
1 colher das de chá de tomate picado
Modo de preparo
Descascar a batata e cortá-la em pedaços pequenos. Picar a cenoura. Lavar bem
as folhas de espinafre e picar. Colocar o óleo em uma panela pequena e refogar

a cebola e o tomate. Colocar os pedaços de batata, cenoura e galinha desfiada e
acrescentar dois copos de água. Deixar cozinhar até a batata ficar macia. Antes de
a água secar, adicionar o espinafre picado. Quando a papa estiver com consistência
pastosa e com pouca água, desligar.

Papa de mandioca/macaxeira/aipim, brócolis, beterraba e fígado
Ingredientes
½ mandioca média (150g)
2 ramos de brócolis
2 fatias de beterraba
2 colheres das de sopa cheias de fígado picado (50g)
1 colher pequena de óleo
1 colher das de café rasa de sal
1 colher das de chá de cebola ralada
1 colher das de chá de cheiro verde picado
Modo de preparo
Descascar a mandioca e a beterraba e cortá-las em pedaços pequenos. Lavar bem
os brócolis e picar. Colocar o óleo em uma panela pequena e refogar a cebola, colocar os pedaços de mandioca, beterraba e fígado. Acrescentar o cheiro verde e
dois copos de água. Deixar cozinhar até que a mandioca e a beterraba fiquem macias. Antes de a água secar, adicionar os brócolis picados. Quando a papa estiver
com consistência pastosa e com pouca água, desligar.

Papa de feijão, arroz, espinafre e ovo
Ingredientes
½ concha com feijão
3 colheres das de sopa cheias de arroz
1 colher de sopa cheia picada de espinafre (ou outra folha verde escura)
1 ovo (50g)
1 colher pequena de óleo
1 colher das de café rasa de sal
1 colher das de chá de cebola ralada
1 dente de alho picado
Modo de preparo
Lavar bem as folhas e talhos do espinafre e picá-los. Colocar o óleo em uma panela pequena e refogar a cebola, o alho e o arroz, e acrescentar dois copos de água.
Deixar cozinhar até que o arroz esteja quase pronto. Antes de a água secar, acrescentar as folhas e talos picados de espinafre. Quando a papa estiver com consistência pastosa e com pouca água, desligar e adicionar o feijão e o ovo cozido. Amassar

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O Desafio das Primeiras Papinhas




Há muito tempo que eu queria escrever sobre esse assunto. À época da introdução de novos alimentos eu cheguei a escrever aqui, desabafar minhas ansiedades. A verdade é que foi uma fase bem estressante, porque as coisas não são tão fáceis. Parece que subjetivamente existe uma pressão na gente para que o bebê, ao completar 6 meses, comece a aceitar a qualquer custo os outros alimentos. A pressão vem da própria ciência, dos pediatras: com 6 meses acaba a reserva de ferro que o bebê fez no ventre materno, se ele não comer pode ficar anêmico; o leite materno já não tem mais calorias suficientes para o bebê. Mas espera aí, não somos máquinas! A verdade é que cada bebê tem seu tempo para aceitar algo tão novo em sabores e texturas. E a outra verdade é que o leite materno continua sendo o principal alimento para o bebê, e não as outras coisas. As outras coisas é que COMPLEMENTAM O LEITE MATERNO, fornecem mais calorias para um bebê que já rola, já senta, já quer engatinhar, crescer. Eu demorei para entender isso. Mas encontrei muita informação aqui na internet, numa lista de mães no Yahoo e em comunidades do Orkut, como o Grupo Virtual de Amamentação e Meu Filho Não quer Comer.



Como foram as coisas? Bem, comecei tudo bem devagar. Amamentei exclusivo até 6 meses. Quando Pietro completou essa idade, comecei a dar frutas. Foi rejeição certa. Para observar alergias, oferecia o mesmo alimento por três dias, depois iniciava um novo, até ele provar todos. A cada dia oferecia metade de uma fruta, brincava, enganava, ele aceitava melhor umas, rejeitava completamente outras, e assim fomos. Cheguei a misturar leite materno para melhorar a aceitação, não ajudou muito no caso dele. Com quase 7 meses é que fui começar os alimentos 'de sal', que na realidade não devem levar sal algum. E aí foi o fim! Ele passou até a rejeitar até as frutas que estava aceitando! Eu oferecia a cada dia somente um legume, cozido no vapor, somente no almoço. Ele ficou muitos dias sem aceitar nada, só leite materno. E quando estava com quase 8 meses percebi que estava começando a aceitar os alimentos. Comecei a fazer o almoço com outros legumes, carnes, e de repente ele se transformou em um guloso, de uma hora para outra!
Foi impressionante essa mudança. Quando os alimentos deixaram de ser algo estranho e ele passou a gostar dos sabores, como comia! Aos 8 meses comecei a dar a janta, e ele comia tão bem que ganhou 1 kg de 8 para 9 meses! E as primeiras palminhas que bateu foi quando viu seu pratinho de comida pronto para ser oferecido. Até hoje ele é muito bom de boca, ao contrário do que dizem sobre os bebês de peito. Apesar de muitas crianças aos 2 anos darem trabalho para as mães para comerem, ele não dá. Tem dias que não está muito a fim do almoço, aí come na janta. Hoje encaro isso na maior naturalidade, pois vejo ele crescer e ganhar peso a cada dia.

Em todo esse processo, nunca neguei o peito. Quando ele recusava os alimentos eu insistia durante um tempo, mas tentava não forçar muito para não transformar a refeição em um momento desagradável, e aí sim eu amamentava. Eu insistia um pouco para ele entender que existia o momento de comer a comidinha. E sempre dizia a ele que ele poderia comer e mamar. Quando ele começou a aceitar bem a comida, era impressionante: mamava antes de comer, comia tudo, chorava quando acabava a comida, aí eu dava uma sobremesa, que era sempre uma fruta, e depois ele pedia para mamar mais. Um verdadeiro guloso.



Confesso que fiquei extremamente estressada e hoje vejo que sem motivos. Mas dei bastante sorte com ele, é uma criança que adora comer. Bem, o próximo post será sobre as papinhas!

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Por que dar colo?


Semana passada uma colega de trabalho deu à luz no hospital em que trabalhamos. Como estava de plantão, fui visitá-la. Sua bebezinha estava toda aconchegada no colinho da tia, que trabalha conosco e também estava de plantão naquela noite, sendo docemente embalada. Mais eis que surgem outras colegas, e num tom de ironia, já a recriminaram dizendo que a bebezinha vai ficar mal acostumada, afinal, além de estar no colo, ainda estava sendo embalada.

Pois é. Essa era a mesma crítica que eu sempre ouvia. Diziam que meu filho iria ficar dependente, inseguro. Dei muito colo e nada disso aconteceu. Todas as vezes que alguém fala mal de dar colo me lembro desse texto do Frédérick Leboyer, que abaixo transcreverei. Para mim, ele descreve o que deve ser chegar nesse mundo hostil para um bebê e porque é importante dar colo, carinho, aconchego.



No ventre da mãe, a vida era uma riqueza infinita.
Sem falar nos sons e nos ruídos, para a criança todas as coisas
estavam em constante movimento.
Se a mãe se erguer e andar,
se ela se virar ou inclinar-se
ou erguer-se na ponta dos pés.
Se ela debulhar legumes ou usar a vassoura,
quantas ondas,
quantas sensações para a criança.
E se a mãe for descansar,
pegar um livro e sentar-se,
ou se deitar e adormecer,
sua respiração será sempre a mesma
e o marulho calmo-
a ressaca-
continua a embalar o bebê.

Depois,
passada a tempestade do nascimento,
eis a criança sozinha no berço,
ou melhor dizendo, numa dessas caminhas que são como gaiolas
de recém-nascidos.
Nada mais se mexe!
Deserto.

E o silêncio.
Repentinamente, o mundo ao redor congelou-se,
coagulou-se,
numa imobilidade completa e terrível.
E,
enquanto lá fora faz-se completo vazio,
eis que
aqui dentro
alguma porção no ventre
agarra
torce
morde...
"Mamãe! Mamãe!"
Ah, que pavor!

No ventre?
Não
ali na escuridão!
Sim, no escuro
há um animal.
Sim, sim, um tigre, um leão...
"Eu o escuto! Eu o percebo!
Mamãe! Mamãe!"

Um animal? Na escuridão?
Prestes a saltar sobre a criança para devorá-la?
Um lobo, talvez?
Um lobo transformado em avó
e que espreita Chapeuzinho Vermelho
preparando-se para devorá-lo?

Um lobo?
Onde?
Na cama? Embaixo da cama?
Atrás do biombo?

Não!
Está bem ali no ventre.
E se chama
fome.

A fome é um monstro?
A fome é sensação agradável. Não é verdade? Porque, de fato, com
muita satisfação, a vemos repetir-se várias vezes ao dia.
Para nós,
uma agradável satisfação.
Porque nós sabemos muito bem que iremos comer.

E para a criança?
O pobre bebê pode movimentar-se?
Deslocar-se até a despensa?
Como se estivesse no restaurante, pode ele gritar:
"Garçom! Garçom!"?
Ele não se cansa de chamar. E, realmente, com toda a força.
Ele berra
para mostrar que lá dentro...

E... Não acontece nada!
É preciso esperar.
E sofrer.
E se inquietar... com o desassossego.
Até que, finalmente, do deserto exterior em que o mundo se fez
vem alguma coisa
que por fim aquieta
o monstro desperto
lá dentro.

Fora, dentro...
Eis o mundo dividido em dois.
Dentro a fome.
Fora, o leite.
Nasceu
o espaço.

Dentro, a fome
fora, o leite.
E, entre os dois,
a ausência,
a espera,
sofrimento indizível.
E que se chama
tempo.

E é assim
que, tão somente
do apetite,
nasceram
o espaço
e a existência.

(Frédérick Leboyer em 'Shantala, uma arte tradicional, massagem para bebês')

Pois é... As pessoas não param para pensar e analisar todas essas mudanças para o bebê, do aconchego do ventre para o vazio do berço, da saciedade constante a dor da fome. E ele precisa ficar no berço, chorar, para aprender. Mas para aprender o quê? Que o mundo é cruel? Que ele não deve esperar contar com ninguém?

Vamos refletir: Por que querermos que nossos filhos amadureçam tão rápido? Por que não deixar que as coisas aconteçam em seu tempo? Por que será que estamos impondo esses conceitos tão imediatistas da sociedade moderna na criação de nossos filhos? A troco de quê? Melhor para quem?