terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Por que dar colo?


Semana passada uma colega de trabalho deu à luz no hospital em que trabalhamos. Como estava de plantão, fui visitá-la. Sua bebezinha estava toda aconchegada no colinho da tia, que trabalha conosco e também estava de plantão naquela noite, sendo docemente embalada. Mais eis que surgem outras colegas, e num tom de ironia, já a recriminaram dizendo que a bebezinha vai ficar mal acostumada, afinal, além de estar no colo, ainda estava sendo embalada.

Pois é. Essa era a mesma crítica que eu sempre ouvia. Diziam que meu filho iria ficar dependente, inseguro. Dei muito colo e nada disso aconteceu. Todas as vezes que alguém fala mal de dar colo me lembro desse texto do Frédérick Leboyer, que abaixo transcreverei. Para mim, ele descreve o que deve ser chegar nesse mundo hostil para um bebê e porque é importante dar colo, carinho, aconchego.



No ventre da mãe, a vida era uma riqueza infinita.
Sem falar nos sons e nos ruídos, para a criança todas as coisas
estavam em constante movimento.
Se a mãe se erguer e andar,
se ela se virar ou inclinar-se
ou erguer-se na ponta dos pés.
Se ela debulhar legumes ou usar a vassoura,
quantas ondas,
quantas sensações para a criança.
E se a mãe for descansar,
pegar um livro e sentar-se,
ou se deitar e adormecer,
sua respiração será sempre a mesma
e o marulho calmo-
a ressaca-
continua a embalar o bebê.

Depois,
passada a tempestade do nascimento,
eis a criança sozinha no berço,
ou melhor dizendo, numa dessas caminhas que são como gaiolas
de recém-nascidos.
Nada mais se mexe!
Deserto.

E o silêncio.
Repentinamente, o mundo ao redor congelou-se,
coagulou-se,
numa imobilidade completa e terrível.
E,
enquanto lá fora faz-se completo vazio,
eis que
aqui dentro
alguma porção no ventre
agarra
torce
morde...
"Mamãe! Mamãe!"
Ah, que pavor!

No ventre?
Não
ali na escuridão!
Sim, no escuro
há um animal.
Sim, sim, um tigre, um leão...
"Eu o escuto! Eu o percebo!
Mamãe! Mamãe!"

Um animal? Na escuridão?
Prestes a saltar sobre a criança para devorá-la?
Um lobo, talvez?
Um lobo transformado em avó
e que espreita Chapeuzinho Vermelho
preparando-se para devorá-lo?

Um lobo?
Onde?
Na cama? Embaixo da cama?
Atrás do biombo?

Não!
Está bem ali no ventre.
E se chama
fome.

A fome é um monstro?
A fome é sensação agradável. Não é verdade? Porque, de fato, com
muita satisfação, a vemos repetir-se várias vezes ao dia.
Para nós,
uma agradável satisfação.
Porque nós sabemos muito bem que iremos comer.

E para a criança?
O pobre bebê pode movimentar-se?
Deslocar-se até a despensa?
Como se estivesse no restaurante, pode ele gritar:
"Garçom! Garçom!"?
Ele não se cansa de chamar. E, realmente, com toda a força.
Ele berra
para mostrar que lá dentro...

E... Não acontece nada!
É preciso esperar.
E sofrer.
E se inquietar... com o desassossego.
Até que, finalmente, do deserto exterior em que o mundo se fez
vem alguma coisa
que por fim aquieta
o monstro desperto
lá dentro.

Fora, dentro...
Eis o mundo dividido em dois.
Dentro a fome.
Fora, o leite.
Nasceu
o espaço.

Dentro, a fome
fora, o leite.
E, entre os dois,
a ausência,
a espera,
sofrimento indizível.
E que se chama
tempo.

E é assim
que, tão somente
do apetite,
nasceram
o espaço
e a existência.

(Frédérick Leboyer em 'Shantala, uma arte tradicional, massagem para bebês')

Pois é... As pessoas não param para pensar e analisar todas essas mudanças para o bebê, do aconchego do ventre para o vazio do berço, da saciedade constante a dor da fome. E ele precisa ficar no berço, chorar, para aprender. Mas para aprender o quê? Que o mundo é cruel? Que ele não deve esperar contar com ninguém?

Vamos refletir: Por que querermos que nossos filhos amadureçam tão rápido? Por que não deixar que as coisas aconteçam em seu tempo? Por que será que estamos impondo esses conceitos tão imediatistas da sociedade moderna na criação de nossos filhos? A troco de quê? Melhor para quem?

2 comentários:

  1. Seu bebê é lindo!!!
    (não achei onde segue esse seu blog...)
    Bjs!

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    1. Oi, Gi!
      Ele estava perto de completar um aninho nessa foto. Obrigada pela visita ao blog, espero que tenha gostado. Eu coloquei esse modelo novo e não aparece os seguidores, nem como seguir. Acho que voltar para o modelo antigo. Beijinhos!

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